O departamento jurídico deve evoluir de reativo para propositivo, antecipando riscos, melhorando processos e colaborando com outras áreas para soluções estratégicas.
Por Thais Alves de Araújo, Fernanda Rodrigues Ribeiro e Viviane Ferreira
Durante muitos anos, o departamento jurídico foi visto – e muitas vezes ainda é – como uma área essencialmente reativa: atua quando o problema já está instaurado, o processo já foi distribuído, o cliente já está insatisfeito ou o risco se concretizou. Nessa lógica, o jurídico é chamado a resolver, não a evitar.
No entanto, diante da complexidade das relações empresariais, da crescente judicialização e da demanda por eficiência e previsibilidade, é urgente migrar para um modelo propositivo, baseado na prevenção e na inteligência jurídica estratégica.
Ser propositivo é deixar de ser apenas executor de demandas para ser agente de transformação, antecipando riscos, propondo melhorias nos fluxos internos, desenhando soluções jurídicas que evitem litígios e melhorando a experiência do cliente final.
É um jurídico que participa das decisões, entende o negócio e age para que a resposta ao problema seja rápida, alinhada e eficiente.
Para isso, é fundamental tratar os processos não apenas como passivos jurídicos, mas como fontes riquíssimas de informação. Cada litígio traz indícios de falhas estruturais, desconexões na jornada do cliente ou ruídos na comunicação de produtos. Quando bem analisados, esses dados alimentam o jurídico preventivo com evidências concretas que podem – e devem – ser compartilhadas com as áreas de produto, atendimento, comercial e tecnologia.
Assim, o jurídico deixa de ser o último a saber para se tornar o primeiro a sinalizar. Em vez de apenas reagir aos sintomas, passa a atuar na raiz do problema, influenciando diretamente a evolução dos serviços oferecidos e contribuindo para soluções mais sustentáveis, legítimas e centradas no cliente.
Construir uma cultura de prevenção exige proximidade com outras áreas, abertura ao aprendizado e protagonismo. O jurídico deve estar presente nas reuniões de planejamento, nos testes de novos produtos, nas análises de risco reputacional e nas definições de estratégia de comunicação. Deve escutar os clientes, os atendentes, os desenvolvedores. Deve traduzir o direito em soluções aplicáveis, acessíveis e éticas.
Conclusão
O caminho do jurídico reativo ao propositivo não se faz com uma virada de chave, mas com um processo contínuo de mudança de mentalidade, de valorização da estratégia e de aproximação com o negócio.
Migrar para um modelo jurídico propositivo não significa abrir mão da excelência na resolução de conflitos, mas ampliar sua atuação para que a solução não precise mais ser acionada com tanta frequência. É transformar o aprendizado do contencioso em direção estratégica.
Nesse caminho, o jurídico assume um papel central na construção de valor para a empresa, para o Judiciário e, principalmente, para o cliente final.
Ser propositivo é ser protagonista. E isso começa, como tudo que é sólido, pela base.